Lorenzo Mazzo

Canção do Exilado

Se da vida eu levar parte tão frívola,

Saberei que te amar não fiz direito:

Pois teu cheiro, fragrância tão divina;

Pois tuas vestes, mantos de algodão;

Pois teus cabelos, mares infinitos;

Pois tua face, humano espelho nosso;

Nada mais são que dádivas de Deus...

 

Mas longe de ti fico, tão sozinho

Em frente dos demônios do passado!

Áureos tempos, douradas esperanças,

Rubros olhos, que choram de alegria:

Tudo existe no eterno sofrimento

De não poder mais ver as maravilhas

De antes, depois do nascimento teu...

 

Se da morte eu trouxer alma tão séria,

Saibas que te deixar não quis, jamais...

É que lá, donde o mar nasce, nada há

Além de praias negras, nas quais faço

Penitência, esperando tu cruzares

A fronteira do Amor, tão verdadeiro,

Que só mesmo invisível p’ra ser visto!