O Meu coração , inchado, com batidas lentas não consegue abortar a sua partida.
Logo ela se vai.
Evito seus olhos verdes, tão enormes,
E de sentir ciúme da boca carnosa.
A mudez é um fantasma entre nós,
Nada resta a falar, tudo é dormente.
(Bebo vodkas duplas, inutilmente)
Na minha garganta um nó não desata um balbucio sequer,
Calam- se os pensamentos...
( Será que ela pensa?)
Há na colina do horizonte uma curva.
A curva do asfalto da rodovia,
Visão perversa e sombria.
II
Sinto uma saudade antecipada.
Pressinto de mim lágrimas noturnas,
E nos ouvidos pulsações soturnas,
No vazio da casa errantes sombras,
O silêncio de passos sobre alfombras...
O solitário jantar,
E o meu garçom amigo,
\"Ela se foi?\"
De voz embargada , não o contradigo.
Ele lamenta o meu castigo.
Meu carro é um inimigo inconsciente,
Onde me magoa o assento ausente.
Essas flores que ela inda cheirou,
E o cãozinho, Monrá, ela beijou,
O pássaro preto, Pepete, a orelha lhe bicou,
A fechadura da porta que, suave, por ela se abria.
III
( Mais uma vodka, dupla, por favor)
E vou mudar de casa para que haja outra porta...
O ônibus anuncia, chegou a hora.
Não há beijo na fronte, ou toque de abraço, palavra nenhuma,
Tudo é dito com mudeza.
Agora, ela se vai, embarca no ônibus.
As janelas esguias escondem- lhe a beleza,
Já mascarada pela epidemia...
O ônibus, agora, enorme: é um monstro!!
O gás do escapamento, o rooommm do motor
Insinuam desprezo ao meu coração
Pequenino, e de batidas rápidas...
E fico sem rumo,
Sem aprumo,
Cambaleante e ausente
E sou inexistente...