Divaldo Ferreira Souto Filho

reais sonhos

enquanto descansa a felicidade

batem as asas aceleradas no peito

e, olhando para mim, a verdade

motiva as águas que caem no leito

 

sonho perdido por entre esquinas

não me trazem a beleza da cidade

quando acordo, no meio das neblinas

então choro, pela frieza da verdade

 

somente a terra esconde o fruto

que a água do meu pranto alimenta

desde que desconheço meu futuro

sou assim: minha ideia me inventa

 

enquanto descansa a liberdade

dou uma completa volta pela rotina

pro pranto, nos reclames da saudade

meu choro tira a maquiagem da retina

 

tudo que vejo, se não sonho

não passa de chão sem chuva

meu suor é assim tristonho

cansado pelo pé descalço na rua

 

na mesma rua onde eu andei

andou também minha coragem

pena que quando dela precisei

ela se foi... e não voltou de viagem

 

meu corpo se apavora com o dia

que o sol me traz de presente

se o mundo fosse novo: eu saberia

sorrir pra vida sem o sorriso que mente

 

tantas vezes critiquei o vizinho da rua

por me dar um sorriso, que julguei maquiado

sem ver no espelho minha consciência nua

para um rosto sorrir é preciso ter chorado

 

tanta força tem a hipocrisia na vida

que meu sorriso, sem cáries nos olhos

pede a alegria, recebe em contrapartida

somente a utopia dos meus reais sonhos