Naquela casa, de arquitetura modesta
de tábuas separadas por longas frestas
foi a humilde morada onde nasci
Telhas de barro, e de baixo oitão
terreno fechado, não havia portão
nesse quintal, sem gramas, vivi.
A sala pequena, dois quartos, cozinha
privada lá fora, chuveiro não tinha
a gente tomava o banho em bacia.
Em cada aposento só uma janela
que a gente trancava com uma tramela
era pouco seguro mas medo não havia..
Nas portas das peças desciam cortinas
luzes no teto sem o forro em cima
às vezes com velas e até lampião.
Mamãe me pedia : meu filho arrume
Um pedaço de pau, touceira de guanxume
faça u\'a vassoura e varra este chão.
Cera vermelha, amarela, incolor
derretidas ao fogo ganhavam mais cor,
o brilho era dado esfregando o escovão.
Tapetes de saco na porta da entrada,
sapato, chinelo, sandália empoeirada
tudo se limpava com muita educação .
As camas de mola, ou duro estrado
quando estavam com um pé quebrado
em seu lugar colocava uma pedra ou tijolo.
Vasos de flores cultivadas em latas
que a gente colhia cavando nas matas
penduradas na área, plantadas no solo.
Buracos na cerca, sem muro e limite
é mesmo lá fora que o filho insiste
e divide o mundo como eu dividi.
Por estas ruas, sem asfalto e calçadas
sem bueiros, sem árvores, esburacadas
menino franzino, descalço, corri ...
Hoje me sinto muito inconformado;
houve progresso, tudo muito avançado
casas melhores, brinquedos perfeitos,
Apesar disso tudo dar comodidade
não vejo ninguém ser feliz de verdade
nos sentimos, ainda, sêres insatisfeitos.