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@GuiJensenIV

Dona Ruth num barco de nuvem

Reza a lenda que, num descuido de Deus, o céu se abriu:

era relâmpo, trovão e corisco!

A nuvem virô canoa e o vento virô rio.

Lá embaixo na terra, ninguém suspeitava,

só em festa junina, se pensava!

 

O povo das grotas, dos vales, das roças

arrumava enfeite e bandeirola picotava.

O das vertentes, das fazendas e das veredas,

a música ensaiava e o banquete preparava.

 

Era um trem lindo de doer,

se contar ninguém acredita!

Tinha mulher, criança, homem papudo, um monte de anão e saci-pererê,

tinha gamela, coité, moringa, tramela e canudo de fogo alumiano o terreiro…

 

Vestido com muito requinte,

um blusão de couro curtido, chapelão de palha com fita colorida e

baruaca cheia de espiga de milho verde, gritou o caboclo:

Tudo pronto!

 

Sebastiana, sanfoneira das boas, quando puxou o fole

e a primeira nota ressoou foi correria danada,

até poeira levantou!

Todo mundo queria um par,

chega ser engraçado de alembrar…

 

Era homem com mulher, criança com menino,

saci com curupira, paulista com nordestino,

gente da grota com povo rio, causo de onça com história de gameleira,

bicho do mato e bicho da areia.

Tinha até um barbudo vindo da Rússia, fez par com Juraci meia-colher

 

Num tardava começar…

quando um relampô clariô, um trovão estrondô e um corisco desceu a ribanceira.

Pousô uma nuvem que virô canoa,

navegava num vento de rio, na cabeceira do céu,

na proa, Ruth Guimarães, flutuano e espreitano a cultura em forma de quadrilha.

 

No chão, não se podia conter tamanha euforia!

Era grito, risadaria, emoção, muito choro de alegria!

Nessa hora gritou o caboclo Valdomiro Silveira:

Dona Rutinha, é dia de Santo Antônio! Aproa seu barco, só falta a senhora…fada dos caipiras!