Marçal de Oliveira Huoya

Na UTI

Acho que a poesia
Está morrendo,
Internada na UTI.
Já foi intubada,
Depois de dias na VNI;
Tentei uma elegia,
Um acróstico, um epitáfio,
\"A última vaidade de um homem\",
Tentei os versos brancos,
Um monólogo, uma alegoria,
Inventos ainda sem nome,
Ungüentos, medicamentos,
Que já foram tantos,
Que transferiram da enfermaria;
Fez ultra som,
Fez eco e tomografia,
Deu nada bom;
Agora que está em choque,
Muda todo o enfoque,
Volume, desafios volêmicos,
Antibióticos e vasoativas,
Sangue pros meus versos anêmicos,
Placebos, terapias paliativas,
Remédios do desespero,
Drogas de angústia criativa,
E tome - lhe soro com albumina,
Que o auditor vai glosar,
Aumenta a noradrenalina,
Ver se a pressão vai aumentar,
Associa dobuta e vasopressina,
Intubação orotraqueal,
Mesmo sendo um paciente terminal,
Vamos salvar este poema,
Porque se tiver uma sobrevida,
Mesmo que seja pequena,
Acho que este amor valerá a pena,
Acho que ainda tem uma saída...