O passarinho preso na gaiola
na cumeeira quente do telhado
força um canto ao sol que o assola;
dom do artista, hoje humilhado.
Imagina o frescor de um riacho
num zig-zag livre pelos ares
vasto mundo pra cima e pra baixo
e o alimento fresco dos pomares.
Asas soltas, levado pelo vento
ou à tarde de regresso para o ninho
No bico levava o alimento
à sua prole, feliz, o passarinho
Alguém chega pra mudar a sua sorte
roubar seu mundo de tantas alegrias
Por sua vida lhe propõe a lenta morte
e a prisão por suas melodias.
Por instinto e a sua natureza,
no impulso da sobrevivência...
vê o pão disposto sobre à \"mesa\"
na armadilha servido sem clemência.
Um gesto de tamanha traição
sem remorsos no coração do homem
que por cruel ganância e ambição
explora a dor daquele que tem fome.
Pobre ave, de canto mavioso
se retrai na morada de arame
quando perto, chega o ser maldoso
também preso em sua alma infame.
Olhar daqui, olhar de lá, tanto faz
salvo uma expressa diferença
está fora, o pior dos animais
está dentro, um animal que pensa.
Separados estão pela mesma grade
( lembro aqui, adágio verdadeiro )
A ave presa, merece a liberdade
Ele, solto, em si mesmo prisioneiro.