Antes 
 Era sede,
 Imagem e necessidade, 
 A angústia da novidade,
 Perdido entre quatro paredes,
 O corpo faminto, 
 A alma com febre,
 A chama do instinto,
 Uma febre incomodada,
 Agoniada, abafada e esfumaçada,
 Fogão de lenha em um casebre,
 Febre terçã, febre quartã,
 Suores de impaludismo,
 De noite e de manhã,
 Temores do sismo,
 Tremores na beira do abismo,
 Amores de fã,
 Era uma premência,
 Era uma urgência, 
 Que beirava o desespero,
 Era sal demais,
 Era muito tempero,
 Há muito tempo atrás,
 Mas então passou um dia,
 Depois mais outro se sucedeu,
 E mais uma noite foi companhia,
 Até que o dia amanheceu,
 Sem placas, sem pruridos, 
 Até mesmo a febre cedeu,
 Agora era outra pessoa,
 Não passara por tudo a toa,
 Estava forte, com imunidade,
 A febre levara a saudade,
 A dependência do remédio,
 Nada mais com intensidade,
 O superlativo era médio,
 A vontade de ver e de ter,
 Agora poderia adormecer,
 Sem nenhuma ansiedade,
 Se testando se levantou,
 Se teria alguma dificuldade, 
 Não, aquilo não era amor,
 Fora sonho, não era verdade...