O despojar da lama
mineralmente incontrolável, sujou
num devastar cidadão
muitos corpos enterrou
ensanguentando rios e mar,
por distâncias absurdas,
que a imprudência insana marcou.
Muito se espera, nada se faz
mas, o grito ainda se ouve,
dolorido, no seu exprimir,
que a revolta registra sonoramente:
- Oi! Tem alguém aí?
No rastro rebuscado da omissão
marco indolente da rapinagem
ambientes familiares são devastados
soterrados pela incompreensão
denotada pelo descaso
e nada substitui o falso compasso do subsistir
enquanto o juízo cala pela falta de entender
porque tantos choram e imploram:
- Oi! Tem alguém aí?
As pedras desconexas
descem barrancos e morros
num estrondoso despencar,
o cidadão da encosta, desolado, sangra
pois dos reis da usurpação,
nada se espera, a não ser o escorar,
não se importando com nada
nem com o abafar do sentir
enquanto vozes são arremessadas aos destroços:
- Oi! Tem alguém aí?
E sob o pretexto infame e abrupto de drogadição
enreda-se a batuta da armadura
para uma limpeza quimérica da escória
e neste esgoto rompante
o estrondo de máquinas e fogo
dita-se uma postura inodora
sem se importar com os escombros feitos ali,
e o engasgar de mães desesperadas,
gritando em busca dos filhos:
- OI! Tem alguém aí?
O jato da mediocridade
é o retrato do ausentar da decência
para quem só pensa no umbigo
e não se sensibiliza
com a expressa clemência
de apenas querer um abrigo
e muitos bajuladores e serviçais
sem dó riam do arrogo no espancar coitados
que tem na rua a sua sobrevivência efêmera
saqueando-lhes o direito de ir e vir
que no mendigar, n’uma busca opaca:
- Oi! Tem alguém aí?
E no ofuscar da ganância corre o fogo e a fumaça
consumindo corpos em total confinamento
Ninguém quis que na musicalidade sórdida
sobrasse riscos e denúncias
de um local em isolamento
mas a penúria toma um rumo mais imperfeito
em que a defesa, como um mistério público
deixa de ser o exigir
e no desconsolo, além da ausência familiar,
nem se pode perguntar:
- OI! Tem alguém ai?
E tudo vai ao zero,
num questionar cínico,
vesgo, surreal e vulgar,
debulhando arrogância,
deboche e perversão
em não querer aceitar
que se manifeste exigindo
bem constante, o sair
mesmo nada tendo
a influenciar do temer
quando se ouve uma onda borbulhante:
- Oi! Tem alguém sensato aí?