Adrian Nilo

Mutilação

Corto a carne, rasgo a pele

O que sai, não é sangue, mas dores e tristezas.

Pedaços de memórias escorrem,

Cobrem todo meu corpo,

E isso me causa grande consternação,

Tento limpar, apagar, tudo que em mim se cravou,

Foi tudo em vão, como tentar limpar o sangue que caiu no tapete.

Abro meu peito e vejo

Não existe nada, existe abismo.

Eu olhei tanto para ele, que ele agora me observa, me causando calafrios

“De onde veio tanta escuridão?”

Continuo a cortar, arranhar

Nada encontro.

“Mas, o que eu estou procurando?”

Arranco meus olhos, para tentar ver meu ser

Decepo meu braço, para tentar tocar minh’alma

Abro-me e viro-me ao avesso, como roupa estendida no varal

Meus orgãos, inúteis bugigangas

Minhas entranhas estão a mostra, e fedem

Deixo tudo espalhado pelo chão e moscas ameaçam devorar-me,

Decido procurar minuciosamente, em cada célula, em cada átomo  

“O que estou procurando?”

Essa pergunta me rodeia, me assusta

Por, possivelmente, já saber a resposta.