Corto a carne, rasgo a pele
O que sai, não é sangue, mas dores e tristezas.
Pedaços de memórias escorrem,
Cobrem todo meu corpo,
E isso me causa grande consternação,
Tento limpar, apagar, tudo que em mim se cravou,
Foi tudo em vão, como tentar limpar o sangue que caiu no tapete.
Abro meu peito e vejo
Não existe nada, existe abismo.
Eu olhei tanto para ele, que ele agora me observa, me causando calafrios
“De onde veio tanta escuridão?”
Continuo a cortar, arranhar
Nada encontro.
“Mas, o que eu estou procurando?”
Arranco meus olhos, para tentar ver meu ser
Decepo meu braço, para tentar tocar minh’alma
Abro-me e viro-me ao avesso, como roupa estendida no varal
Meus orgãos, inúteis bugigangas
Minhas entranhas estão a mostra, e fedem
Deixo tudo espalhado pelo chão e moscas ameaçam devorar-me,
Decido procurar minuciosamente, em cada célula, em cada átomo
“O que estou procurando?”
Essa pergunta me rodeia, me assusta
Por, possivelmente, já saber a resposta.