JUCKLIN CELESTINO FILHO

DERROTA DO MINOTAURO

I

Descendo arrojado do meu trono

Nas estrelas, eu o monarca

De Estrelinário ,

Huclino de Alembete,

Montado em meu Pégaso Rompinete,

Depois de um embate bárbaro 

Travado por mim

Contra monstros lá no Tártaro,

Vou galopando pela Grécia antiga.

O que nesta hora me intriga,

É  de Creta - as ruínas vê-las,

E dos escombros  - quais esqueletos

Com os braços erguidos para a terra,

Vislumbro intacta,

Como se fora hoje construída,

A prisão à qual o Minotauro encerra!...

E da qual,  um vulto trôpego,

Olhar perdido ,

Face transida de amargura

Em meio aos escombros assoma.

É  Dédalo! O Grande Artesão 

Que pasmo contempla alucinado 

A sua pavorosa obra - o Labirinto!

Em mim, crescer sinto

O pesadelo que de assalto me toma

Ao ver como num filme de horror,

As mesmas crudelissímas 

Cenas de outrora,

Cujas personagens são as mesmas,

E o mesmo é  o cenário,

Do qual surgem

Das cinzas do passado -

Ariadne, Dédalo, Teseu,

O Rei Minos e a bizarra criatura

Metade touro, metade homem ,

Que ali também se faz presente!...

De todos aqueles, a figura 

Que mais me impressiona -- é Dédalo.

- Senhor Deus,

Perdeu o homem o juízo!...

Aquilo é um gigantesco

Par de asas que segura !

No Grande Artesão ,

Detenho mais o olhar!...

Refletida no semblante

Daquele homem singular,

Vejo a dor imensa

Que o consome

Depois do infeliz desenlace,

Que lhe vitimou Ícaro,

O filho amado!

Também se associa

À mesma hecatombe de aflição,

O Rei Minos,

Que de dores - enlouquece,

E mais e mais a razão

Se lhe enfraquece

Ao reavivar na mente,

O tormento ao qual passara

No pugilato

Travado contra Atenas!...

É que, no fragor da batalha

Que o levou ao desatino,

O cruel, mordaz destino,

Em paga às atrocidades

E golpes rasteiros

Por ele praticados,

Abrira-lhe as asas

Nefastas do infortúnio,

Tecendo-lhe uma mortalha

Para ser usada naquele

A quem o Rei de Creta

Mais devotava afeto --

Seu filho - Androceu!

Foi terrível,

De Minos - a vingança: 

Ordemou  de forma cruel 

E desumana, a matança

De de sete rapazes

E sete moças inocentes

Que todo ano

Eram enviados

Ao Labirinto para pelo

Minotauro serem devorados!

II

Dédalo que continuava

Envolto no seu transe...

Revia a cada instante,

O drama que culminara

Com a maior

Desdita em sua vida,

Logo após as asas que fizera

\"Com penas de gaivota,

Cera de mel das abelhas\",

E do Labirinto - fugir lograra,

Sem perceber

Que com aquela

Ação temerária,

Na mão do destino -

A vida do filho dera...

Ainda envolto

Nestes dolentes pensamentos,

Mais e mais se consumia

Em atrozes tormentos!...

E das névoas da loucura,

Ver surgir  Ícaro.

E de seu filho,

Escuta embevecido:

- Pai, perdoa-me

Ter sido atrevido,

E ter-te desobedecido,

Não te dando ouvidos...

Mas consegui voar...

Voar bem alto...

Dei um tremendo salto ...

Voei...voei...além da terra,

Além das serras,

Além do mar, além do sol.

Estou vivo.

Voei além do arrebol.

Condoído  com

O atroz sofrimento

Do Grande Artesão,

Que estava

Em estado de loucura,

Chamo-o a razão:

- Acorda, Dédalo!

Ícaro está morto.

O que sua mente projeta,

É uma alucinação!...

Enquanto isso,

A tarde ia findando,

Com o céu encimado

Por um punhado

De nuvens vermelhas

Que assistiam

 À  desigual peleja

Do Minotauro contra Teseu,

Que se encontrava agora,

Totalmente encurralado

Naquele labirinto

Infernal, em Creta,

Do qual , não sabia

Como encontrar a saída.

Mas eis que de repente,

Num canto,

Avista a bizarra criatura ,

Que no momento,

Está entregue ao sono.

 É  a chance que tem Teseu,

De eliminar aquela ameaça

Em forma de monstro

Que vem aterrorizando

Creta há  anos.

Como fazê-lo,

Se Ariadne demora,

Pondo-o ainda

Mais desesperado

Na luta pela vida?

Se matar a fera,

Não tem como

Sair do Labirinto.

De repente,

Muda-se o cenário!...

E o destino,

Cruel fadário, 

Aponta a chegada

De uma nova personagem,

Que entra em cena.

Era Tântalo que se lamúria,

Inconformado com a sentença

Que lhe fora prolatada.

Não ! Não Zeus!

Não  fui eu quem os traiu.

Na casa dos deuses

Eu jantava!

Por que logo eu,

A quem eles

Amizade devotava,

Iria traí-los,

Participando a meros mortais,

Segredos dos imortais?

Não , Zeus!

Nunca o iria trair!

Não merecia 

A prisão a mim imposta,

0u seja:

Ser condenado a viver

Sobre um monte

De terra, num lago,

No Mundo Inferior,

Convivendo com

A incomensurável dor

De ter tudo e nada ter,

Qual seja: preso à arvore

À qual me deste por cela,

Repleta de frutas, das quais ,

Não me era permitido usufruir,

E nem sonhar em água beber!

Zeus, tem dó  de mim!

Ouve o que falo!

Abre-me novamente a porta!

Quem merece

Ser punido é Dédalo,

Que por inveja, assassinou

O próprio sobrinho Talo,

Porque ele

O estava suplantando

Na arte da invenção!

Não , Zeus!

Vejo por mais condenação

A que me impunhas,

Fazeres surgir à minha frente,

Aqueles monstros - as Gorgonas:

Esteno, Auriele e Medusa.

As serpentes nos cabelos

Delas me assustam!

E a mais terrível

Das irmãs, Medusa,

Provoca-me, de mim abusa,

Com o propósito

De transformar-me

Em pedra se fita-la ...

Zeus, o deus 

Supremo do Olimpo,

Vestido de luzes

Em sua magestade,

Cujas estrelas

Lhe invejavam o brilho,

E cativas

Lhe seguiam o trilho,

Prostradas aos pés

Do todo-poderoso 

Monarca olimpiano,

Assistia passivo,

Sem atender aquela súplica,

Tendo ao lado, no trono,

A belíssima esposa 

E irmã , Hera,

Cuja beleza fascinava,

Qual mavioso

Canto de sereia

Que faz o nauta

Perder o rumo.

Já Poseidon,

Destemido  deus do mar,

Lá no seu preferido canto -

O Santuário

Dos Golfinhos Cantores,

Tridente em punho,

Fazendo tremer

A terra, sacudir os oceanos,

Espargindo água

Qual dilúvio,

Assistia pasmo de espanto,

Àquela peleja tão singular -

Era eu, o Valoroso

Guerreiro Huclino,

Que ali me avultava,

E nas ruinas cretenses,

No Labirinto,

Ao Minoutauro,

Que acordara, enfrentava...

E por fim,

Depois  de árdua batalha,

À qual as estrelas

Foram testemunhas, 

Cabendo aos céus --

Coser uma mortalha

Para o monstrengo,

Que foi derrotado por mim,

Invencível Guerreiro Huclino...!

Teseu, que assistia perplexo

À minha arrojada investida,

Em paga aos préstimos meus,

Faz a mim, uma reverência,

E emocianado exclama:

- Caro Huclino,

Qual o soberano Zeus,

Também a ti, presto culto:

À tua valentia ,

Sabedoria e astúcia me inclino!

Nao se faz um herói apenas

Com palavras, e sim, com ação!

Daqui de Creta, do Labirinto,

Da tua presença,

Jamais apagar-se-á  a chama!

Tenha certeza:

Hoje tu partes ...

Mas nunca - do meu coração!

 

 

 

 

 

S