Os dias são estranhos e incertos
A minha mente pensa, viaja e especula
Sonho os sonhos que jamais realizarei
Penso os diálogos que nunca acontecerão
Penso na amada que nunca terei
E vou caminhando ou fingindo que faço isso.
Tornou-se repetítivel falar de mim,
Falar das minhas dores, angústias
De todos os medos e aflições.
Estou agora esperando algo de diferente acontecer,
Talvez, eu esteja esperando que o milagre aconteça,
Que a oportunidade bata na porta,
Que a pessoa da minha vida apareça amanhã,
Que eu seja reconhecido por algo de bom que eu tenha, ainda que eu não saiba o que é,
Ou que eu escute na porta de uma catedral que sou escolhido por Deus do próprio Deus.
Mas percebo com lucidez e medo, o que realmente esses pensamentos significam
Percebo que não aceito o fato de ser invisível,
Nem o fato de ser quem sou,
Como uma droga que promete a fuga realidade,
Uso os meus pensamentos para fugir de tudo,
Fico drogado pelos próprios pensamentos e expectativas que tenho.
Então, todo o mundo exterior parece tão frágil,
Tão distante de mim, tão fora de mim
Que fico em dúvida se tudo é real e verdadeiro.
Fujo para não escrever os meus poemas,
Porque todos eles rasgam a minha carne,
Despedaçam o meu coração,
Trituram a minha alma
Deixando-me nu para que todos vejam as minhas vergonhas.
Eu não sei o que fazer, nem como agir
A sensação que eu tenho é que nada funciona, nada acontece,
Sempre serei o nada do nada,
Sempre serei o do \"quase\",
O inteligente, mas nem tanto
A boa pessoa, mas nada demais,
O diferenciado, mas facilmente esquecido
O que era fantástico, mas não foi lembrado
O amado, mas que foi preterido.
E nesse mundo cheio de idas e voltas,
Prossigo sozinho, caminhando de forma solitária,
Sem amigos, sem laços, sem lembranças e abraços
Sem álibis para culpá-los pelos meus erros
E sem testemunhas para presenciar cada um deles.
Errei, deixei quem gostava de mim ir embora,
Não falei o quanto gostava, não tive força para falar de amor,
Tive medo de dizer e não ser correspondido,
Hoje sinto saudades de um bom dia que não tenho mais,
De escutar de alguém especial, o quanto sou importante para ela.
Rezo ao Senhor e peço perdão pelos meus erros,
Sim, são poucos, nada demais, mas na minha vida,
Sinto um terremoto dentro de mim por cada um deles,
Não sou santo, nem o maior dos pecadores,
Ao mesmo tempo que almejo um e vivo como outro.
Tornou-se difícil dobrar os joelhos e orar,
Os meus vícios e dores me corrompem por dentro,
Dobro os joelhos e sinto que não sou escutado,
Quando sinto, infelizmente, as palavras me faltam,
A única coisa que eu peço é perdão pelos meus pecados,
Pela minha falta de fé, pelos meus erros, pelo meu narcisismo
Pela minha ânsia de ser algo que eu não sou, nem serei.
Pela minha covardia de não admitir e aceitar o meu caminho,
Pelo meu medo de pegar o arado e não olhar para trás.
Faço desse meu poema, o meu testemunho, a minha oração,
O contrato de franqueza entre mim e o meu coração,
Nesse mar de dúvidas, medos e crises,
Vou caminhando e esperando a minha sorte mudar,
Escutar a voz de Deus em uma catedral
Escutá-lo me chamar, e me chamar pelo nome,
Dizer que sou escolhido e, finalmente, ser quem de fato ele quer que eu seja,
Até lá, sigo em frente, esperando um dia passar de vez
Caminhando lentamente, mas caminhando,
Chorando, mas não desistindo
Tentando curar os meus vícios, cicratizar as minhas feridas
E viver pronto e forte para cada peleja.