Estou diante do meu computador
Estou pronto para escrever
Estou pronto para fazer essa minha oração
Ou declaração, ou atestado de culpa
Porque escrever é rasgar o coração
Abrir a alma e deixá-la fluir,
Sangrar e chorar,
Sorrir enquanto as lágrimas descem.
Mas me falta inspiração,
Não sei o que falar,
Não sei o que dizer,
Tudo parece tão claro
Tudo parece tão óbvio
Mas as palavras não aparecem,
A rima não existe
Falta-me elegância
E o que me sobra é falar da minha falta de qualidade
Dizer que estou escrevendo um poema sem inspiração.
Os dias vão se passando,
A única coisa que consigo falar é da minha experiência,
Falar o que sinto, falar o que penso,
Escrever o que eu não teria coragem de falar para alguém,
O que eu não tenho coragem de falar na luz do dia,
O que eu não tenho coragem de falar nos olhos,
O que eu não tenho coragem de pensar.
Diante disso, paro e reflito: \"o que vou escrever?\"
Terei coragem para dizer o que quero?
Serei eu sincero comigo?
Serei sincero com quem irá ler?
Mesmo que não me conheça?
Diante de tantas perguntas sobre como serei visto
Como serei entendido,
Como serei pensado,
Ou como não serei nem lido,
Aparece, de repente, a pergunta: \"quem sou eu?\"
Qual o meu passado?
Qual o meu futuro?
E tudo isso é doloroso, porque me pego pensando
Tenho a consciência e percepção que penso,
Então abre a realidade no meu interior,
Ela parece mais real que o mundo exterior
E tudo isso é alienígena para mim.
Diante de toda essa aflição interior,
A única alegria que tenho é escrever um poema
Os meus poemas são pobres,
Mas encontro neles a profundidade do meu ser
Encontro nas minhas palavras algo que nunca tinha visto
Encontro na minha forma de expressar e dizer,
A terapia do meu coração,
A endorfina da minha alma
E a paz que tanto busco.
Como um mensageiro que busca receber a resposta da mensagem que enviou,
Alegro o meu coração quando encontro alguém que leu e gostou,
De alguém que entendeu a mensagem,
E encerro feliz, porque sei que fiz o meu trabalho.
Ó alma do mundo, inspire-me!
Ó anjo celestial, toque no meu coração!
Ó Deidade que escuta e conhece de todas as coisas,
Manifeste-se diante da minha presença e venha ao meu encontro!
Que em mim possa habitar todos os saberes
Sim, todos os saberes filosóficos, teológicos, científicos
Existenciais, emocionais, os racionais e irracionais,
Todos os mistérios da vida,
Os segredos da existência,
Os arcanos divinos e tudo que possa ser conhecido e descoberto,
Mas, se somente se, esses conhecimentos satisfazerem os anseios do meu coração.
A minha alma caminha em dias de trevas,
As alegrias são raras,
Parece que a minha vida é um sonho,
Tudo me assusta quando tenho a percepão da minha existência.
Como uma forma de escapar dessa percepção interior,
Eu coloco uma música e viajo uma longa caminhada para fora de quem sou
Imagino uma vida que não tenho,
Conversas que não tive,
Palavras jamais ditas
Abraços que nunca acontecerão
E beijos que nunca terei,
Tudo isso se repete todos os dias.
Eu não sei se é doença minha,
Não sei se isso é normal,
Só sei que tenho, só sei que faço.
Talvez seja uma forma de me negar,
Uma forma de pensar que sou algo maior do que posso ser
Ou talvez um infantilismo da minha parte.
Nesses últimos dias só me sobram as perguntas,
Só me sobram as questões da noite escura da minha alma,
Só me sobram os \"talvez\",
Vejo os meus amigos, tenho inveja de alguns,
Alguns conquistaram alegrias na vida,
Outros casaram e formaram família,
Mas o que me deixa mais invejado,
Poruqe vejo todos eles sem nenhuma questão profunda sobre a vida,
Sem nenhuma questão interior para ser refletida e discutida,
Sem metafísica para ser debruçada
Sem uma filosofia para ser discutida
Sem uma ética para ser refletida
Sem transcendente para ser alcançado.
Isso me faz pensar que eu seja o diferente,
Eu só sou o cara dos livros,
Só sou o cara que vive no quarto fechado,
O cara que vive lendo e estudando, mas não aprende nada,
O cara que gosta de poesias, mas não é bom poeta
O homem que ama a filosofia, mas não sabe filosofar
O garoto que ama Teologia, mas precisa ser homem,
A pessoa que estuda antropologia, mas não sabe o que é ser humano,
O que não viveu muito e deixou a juventude passar
O homem da alma complexa demais para pessoas simples,
Eu serei sempre o que dificulta as coisas,
Porque não sou igual as outras e não sei se é benção ou maldição.
Talvez, eu fosse mais feliz se fosse viver no mostério,
Ou se amasse uma simples jovem,
Com questões simples da vida e nada demais,
E fosse formar uma simples família, mesmo que ainda jovem.
Mas quando penso isso, meu coração fica apertado,
Pois, não é possível fugir do mundo,
Quando o mundo inteiro precisa de você,
E, também, não é justo casar com alguém que não complementa o seu coração.
O meu poema é a minha droga, o único lugar que posso me esconder
Mas, ao mesmo tempo, posso revelar quem sou,
Posso dizer que sou, mas sem precisar citar o meu nome
Apenas, eu, nu e de coração aberto, revelo quem sou,
O que sinto, o que penso, e junto com tudo isso,
Derramo todas as minhas aflições nas minhas palavras,
Mas encontro refrigério e paz.
Termino esse poema na certeza que fiz a minha oração,
Na certeza que serei escutado, serei ouvido,
Seja por mim,
Seja por Deus, anjos e santos
Ciente que terei a minha resposta
E esses dias de escuridão interior darão espaço à luz,
Porque sem as trevas é impossível o brilho da luz,
Sem o estado infernal,
Não seria possível o homem provar o estado celestial no seu interior.
Assim, encerro esse poema difícil de ser terminado,
Praticamente impossível de ser começado
E deitarei na esperança de momentos melhores,
Deitarei na certeza que não me enganei,
E que fui eu o tempo todo,
Mesmo que isso custe a minha própria destruição.