Zaira Belintani

Desencanto


De repente o riacho revelou segredos,
Descortinando o medo, a mágoa, a poesia,
Ferindo a flor das ondas de encontro às pedras.
Em corredeiras loucas e saltos mortais,
Passaram sonhos tontos, restos de utopia.
Passaram de passagem para nunca mais.

De repente os velhos montes de curvaram
No horizonte em chamas da realidade.
Seu verde jeito de contar histórias,
Carbonizado, deturpou lembranças.
Se os seus encantos foram lendas ou verdades,
Só sobraram cinzas sem verde esperança.

De repente os versos perderam sua rima.
Da vida rasgou-se a sutil fantasia,
Esfarrapando o manto nu da solidão.
Sabe lá Deus, embelecer a eternidade,
Partiu o poeta, levando a poesia.
Não há mais espaço para sentir saudade.

Arquivo 1991