Acordo mais um dia e caminho na existência
Disposto a conquistar o mundo
Mesmo que não seja a minha vontade
Mesmo que não tenha força
Mesmo que não tenha talento
Mesmo que eu não seja muita coisa,
Sou obrigado a vencer mais um dia.
Com o dia, reaparece as mágoas,
Com as mágoas transbordam as dores,
Como a sensação de uma facada,
Sinto que o mundo não me favorece.
O cosmos não caminha em meu favor,
Nada que faço funciona
Nada acontece, nada existe,
O mundo externo parece ilusório
A vida passa um dia depois do outro,
Vida em cinzas e sem graça
No vazio do meu quarto, no silêncio da madrugada, aqui estou.
Diante da minha frustração
Imagino vidas que nunca terei
Imagino conversas que não tive
Amigos que não fiz
Amizades que perdi,
Palavras que não disse,
Experiências que não ocorreram.
Por isso, tento fazer para mim,
Algo que jamais fui ou serei.
Imagino o meu eu, algo que não é,
Transformo em herói, a minha figura,
Com medo de olhar a minha miséria.
Não tenho inspiração,
Não tenho talento,
Não há nada de especial em mim.
Para consolar os meus pensamentos,
Digo que a lástima, traga algo de especial, e que talvez,
Talvez, ser nada, seja algo bom,
Talvez, ser nada ou ser algo,
Seja a contradição metafísica
De toda a minha existência,
É isso que me faz ser humano,
Como um amigo que tenta consolar o outro, consolo a minha mesmo.
Então, paro de pensar na minha dor,
Ou nas minhas dúvidas,
Ou de tudo e um pouco.
Tomo uma ação,
Vou procurar uma boa leitura,
Vou ler, vou aprender,
Buscar algo que responda a minha aflição,
E como num complexo de Fausto,
Busco a felicidade no conhecimento
Busco encontrar a resposta final,
Sim, a resposta para minha dor,
Para minha dúvida,
Para o meu mundo interior,
Para me consolar,
Para me sentir especial,
Ou quem sabe, algo maior,
A resposta para todas as coisas,
A resposta para tudo,
As chaves dos mistérios da existência,
De Deus, dos deuses, do mundo,
De mim e de todas as coisas.
Mas o que encontrei foi silêncio e vazio, palavras e conceitos.
E como um suspiro no meu coração,
O suspiro de toda a existência,
Peço ao Divino que me revele,
Revele todos os mistérios que procuro,
Revele quem sou, quem serei,
Revele o sentido da minha vida,
Que eu possa encontrar alegria,
Que eu possa desfrutar uma satisfação,
Ainda que seja momentânea,
Ainda que seja por algum instante,
Se existe um Deus, sei que ele me dará conforto e paz.
Diante de toda minha crise interior,
Paro e sento na cadeira
Reflito sobre a existência
Diante de muita especulação
Chego na conclusão,
De que todas as coisas procedem do Criador
E que todos voltaremos ao seu seio,
Como um retorno ao Divino,
Diante dessa reflexão metafísica,
Percebo que todas as dores da existência,
Fazem parte do processo natural da vida,
E que é dado ao homem,
As experiências boas e ruins,
Assim como o nascimento traz alegria,
A morte carrega a dor e nos furta o amor.
Então, percebo que sou humano,
Que minha reflexão é o reconhecimento,
Da minha infinitude,
Da minha transitoriedade,
Da minha contradição,
De ser e, ao mesmo tempo,
Não saber o que é,
Da eterna busca pela eternidade,
Ou da realização de si, aqui e agora.
Como alguém que começou a enxergar,
Percebo que a felicidade não é a suspensão das dores,
Mas é a superação da própria condição miserável no interior do ser.
E como um processo de terapia,
Percebo que a reconciliação da existência, deve começar comigo,
Diante dessa resposta,
acalmo a minha alma,
Encontro paz e sigo curando as feridas no caminho,
Esperando as novas experiências que a existência vai me oferecer,
Caminhando e buscando ser algo que ainda não sou,
Não sei quem serei, mas sei que na estrada da vida, as respostas acontecem no momento menos esperado.
E que talvez, o silêncio seja a melhor resposta para a minha pergunta,
Que todas as coisas serão respondidas no determinado momento da minha vida e existência.