I
- Que dizem os astros, Maria,
Na noite tão fria,
Vazia de luares e estrelas?
Que dirão sobre nuvens escuras,
No véu de tantas amarguras,
Toldando o céu cor de anil
Do nosso querido Brasil?
II
Que traz este novo tempo de horrores?
Um tempo pejado de dores,
Tormento e atrocidade,
Cortando na carne tão fundo,
Semelhando o fim do mundo:
Uma nova era que foge aos preceitos
Da anormalidade!
III
- Não ouve, Maria,
Minha amada guria,
A voz lacrimejante,
Do sol itinerante
A confabular tristemente
Com o vento errante,
Na longa noite, trevosa e pungente?
IV
São dores que trazem,
Que fazem
Verterem-se lágrimas
Dos olhos do Astro-Rei no poente;
São vozes tão tristes , dolentes,
Cortantes , plangentes,
Que ferem a alma da gente;
V
São vozes de um novo tempo de agruras!
Um longo e tenebroso inverno ,
Cortando fundo na carne, triste, sofrido,
Macerando o angustioso momento
Deste novo tempo que temos vivido
Na longa noite de desventuras,
De perdição, de inferno!