Adriele Bernardi

Onde os anjos cantam

Onde os anjos cantam

 

Hoje a noite caiu vívida, suprema e encantadora... me permiti sonhar,
Ao som da mais bela sinfonia de grilos e cigarras, iluminadas por vagalumes.
Já não sinto mais a brisa como antes, mas ainda sou capaz de me arrepiar,
se divagando vou, enquanto as estrelas brotam, navegando em seus volumes.
Numa tarde de inverno, onde seus longos cabelos me aqueciam,
Seus pés nus balançavam no ritmo do vento feroz e solitário...
E enquanto as notas do seu violão reverberavam, meus medos morriam...
E morrendo se foram até que, de repente,a redenção virou calvário.

 


Mas, apesar disso, à noite, no vazio do meu quarto e caos da minha alma
Revivo o encanto de seu canto, o sorriso do seu riso e a luz do seu pudor
Ali, onde pássaros cantam ao amanhecer, jasmins crescem em sua palma.
Ali, onde as estrelas aparecem para voar, é onde vive seu lívido amor.
Recordo de suas asas me protegendo e se abrindo para me presentear
Um mundo inteiro se fez pequeno e o universo não foi capaz de medir
Toda a sua leveza e alegria, regida por suspiros de encantamento do luar.
Só você foi capaz de me apresentar um lugar bom, melhor a se abrir.

 


Em tempo de guerra, seus olhos fizeram paz e em tempo de dor... ah querido!
Você fez, com suas delicadas mãos, a beleza resplandecer sob a luz solar
Você, somente você, fez reinar a justiça, bondade e o ensejo reprimido...
E nas bordas de crueldade, nada restou, todas as fagulhas se permitiram queimar.
Onde a luz havia sido esquecida, apagada e iludida, tu, maestro, as reviveram
E trouxe, além, em seus braços tatuados de cores vivazes, a sútil poesia.
Dessa maneira, o preto e branco tornou-se multicolor e as luzes se acenderam...
Como minha alma se acendeu, ao passo que, perto, lhe tocava e lhe sentia.

 

Mas, tudo aconteceu em segundos e nada no infinito contar do tempo...
Na sua presença a eternidade se fazia preguiçosa e brincava com as medidas.
E nesse paradoxo nonsense me via parada, perdida em meio a seu labirinto
Arrebatada, mas surpreendida e apaixonada pelos olhos que me fizeram viva.
Sei que é tarde para conduzirmos o auge juvenil que marcaram nossa história,
Contudo, ainda renasço no sorriso do meu limbo, em que suas mãos moldaram
Pois sobreviver sem meu verbo viver, é morrer lentamente sem glória
E respirar um ar sem o perfume do seu alvorecer é desfalecer onde já amaram.

 


Meu pássaro sublime, meu rouxinol encantado, sei que agora voa entre as estrelas,
Suas asas pairam no céu de nuvens brancas e lúcidas como seu olhar
E mesmo distante, ainda ouço sua canção recriada em montanhas belas,
Se tudo isso acabar, adormecerei em êxtase somente por te ouvir tocar.
Esteja em paz, seja aonde estiver, meu coração ainda bate em seu compasso
E batendo ainda sinto a vida, o amor, o sonho, a esperança, meu lugar bom
Porque sou grata a Deus por ter estado ao seu lado, por carregar seu pedaço
E, onde os anjos cantam ouço, lá do alto, a música que você tocava em seu violão.