JUCKLIN CELESTINO FILHO

MUNDO CÃO

I

Deus, tu que fizeste o céu estrelado,

Que deste teu Filho,

Para tirar do mundo o pecado,

Que puniste Sodoma e Gomorra

Devido à orgia,

Que fazes o sol nascer todo dia!

Senhor, não permitas,

Que homens cruéis

Tomem conta do mundo !

Meu coração alucinado palpita!....

Suas cordas de violão plangente

Se agitam...

A qualquer momento vão estourar...!

Vão estourar, pois já 

Não podem suportar 

O quadro de miséria que campeia!...

Vejo que fizeram da crueldade - 

Uma bandeira!

Do amor - já  não falam,

Está quase a perecer!...

Vejo sangue do mesmo

Sangue que se odeia,

Brigar até morrer!

II

Em meio à tempestade de maldade,

Tu, Pai, fizeste um anjo baixar à  terra -

O Santo Padre!

Mas o homem, animal traiçoeiro!

Abutre carniceiro!

Túmulo fétido onde encerra

Toda podridão e atrocidade,

Tentou tirar a vida do bondoso Papa

João  Paulo II , que ainda o perdoou!

III

Vejo Natal que se aproxima. 

Festa sublime que rima:

Com alegria, paz e amor!

Vejo muitos nadarem em ouro!

Colocarem as mãos no tesouro!

Viverem em palácios deslumbrantes !

Enquanto a criança pobre,

Da casa de barro batido,

Onde só  vigora a fome, o frio e a dor,

Não tem direito a nada.

Pra ela, Natal não existe!

É por demais triste,

Vermos em plena noite de Natal,

Uma criança que chora...

Pedir por amor de Deus 

Uma  esmola,

Um presente, um carinho...

Um pouco de atenção!

IV

Arrebenta, coração, arrebenta!

Tira de mim a tormenta!

Me fecha os olhos à maldade!

Quero esquecer o preconceito,

Amar meu irmão,

Ter por ele respeito,

Aos lábios - uma palavra de consolo!...

Quero esquecer a fera

Que dentro de nós age como pantera -

Sempre à traição,

E nos torna um ser mau!

V

Quero ver a criança,

Desfraudar a bandeira da esperança.

Que a vida lhe seja um esplendor:

Pão e conforto em sua casa,

Um futuro encantador!

Mas a realidade 

É um algoz implacável 

Que adora o crime, a maldade!...

E seus olhos cegos pela crueldade 

Não enxergam inocentes crianças 

Que pedem pão, carinho, compreensão!

Mas há de vir um dia,

Em que entoaremos

Na harpa da alegria -

A canção redentora!...

E não mais, minhas queridas crianças,

As verei sofrendo,

Chorando, se maldizendo!

Em suas casas,

Haverá abundância de alimentos!

A felicidade enfim, reinará!

VI

Foi bonito o meu sonho de poeta,

Que vê o mundo

Por um visor maravilhoso :

Sem dores, sem guerras,

Sem sofrimento!

Um paraíso, um encantamento!

No meu delírio,

Esqueci-me que em Roma,

Se prega o amor, a religião,

E em contradição 

A Máfia, oriunda da Sicília,

Aterroriza o mundo que se assusta

Com tanta tirania!

As Nações vestem o emblema da paz.

Fala-se muito em amor ao próximo. 

No entanto,

Vejo uma dama sanguinária 

Que, indiferente  às dores e prantos,

Prossegue na sua escalada sangrenta:

Matando pessoas inocentes,

Dízimando cidades,

Com requinte  de perversidade!

Sabem o none dessa beldade 

Que irá destruir a terra?

Chama-se a guerra!

VII

Arrebenta, coração, arrebenta!

Tira de mim a tormenta!

Tira de mim tanta aflição!

Me faz esquecer o mundo cão!

Chora, poeta, chora!

Jamais  acabará seu tormento!

0 mundo é  mau por excelência -

Esbraveja a voz possante do vento!