Que sensação ruim, eu sinto por dentro
Sinto um vazio tão grande no interior do meu ser
Não sei o que é amar, não sei o que é ser amado
Não tive o calor da paixão, tenho inveja dos amantes.
A realidade, o mundo exterior, como um todo, me parece tão ilusório
Vejo as pessoas sorrindo, chorando, se alegrando ou sofrendo
Diante de todo o sofrimento e dor do mundo externo
O meu mundo subjetivo me parece tão real e verdadeiro.
Tenho inveja de todos que lutam pela sua vida
Tão cheios de certezas, verdades e razões
Enquanto eu não tenho nenhuma delas
E como zumbi, eu vou caminhando um dia depois do outro.
Diante da existência, só vejo cinza e preto
Não sei o que é alegria, nem a rápida felicidade
Como resposta ao meu próprio degredo e solidão
Acordo tarde com as janelas fechadas, evitando luz do sol.
Sinto-me tão insignificante, tão invisível, tão esquecido
Que entre a minha identidade e o anonimato não existe diferença
E como grito da dor que minha alma sente, eu coloco uma música alta
E, enquanto escuto, imagino uma vida que nunca tive.
E como se não bastasse todo o meu exílio interior
Ainda me deparo com os fracassos da vida
Sim, os fracassos naturais que todos passam e passarão
Mas eles são para mim tão pesados, tão difíceis.
Como se o mundo conspirasse contra mim
Nada parece acontecer em meu favor
Enquanto isso, eu espero a mensagem que nunca chegará
Ou o abraço e o amor que nunca terei.
Diante dessa dor, invoco o nome de Deus
Mesmo sabendo que ele me escuta, não ouço sua voz
Mesmo sabendo que ele me olha, não o vejo
Mesmo sabendo que ele me ama, não consigo sentir o seu amor.
Deus é fiel, mas tornei-me adúltero
Como sintomas da minha traição
Não me reconheço no espelho, me pego sendo quem não sou
E como sinal de vergonha, evito o meu nome e me escondo da existência.
Como desprezo a mim mesmo ou grito para uma reviravolta no meu ser
Termino o meu poema, cheio de erros e falhas grámaticais
Sem elegância, ou qualidade, muito menos, talento
Porque ele é o reflexo de como estou.