someone

O resgate do meu eu

 Até os meus 6 anos não existia outro mundo que nao fosse o meu. Eu era feliz ali. Nada nem ninguém poderiam trocar minha felicidade pela cegacidade da lente alheia. Depois daí, a grama não parecia tão verde quanto a deles. Eu havia me perdido no mundo exterior. Minha singularidade, minha identidade havia se perdido na lógica homogeneizante. Perceber o meu mundo pela lente de outro totalmente diferente me fez achar o meu pior.

 A comparação era contínua e imperceptível, mas só 9 anos depois, comecei a perceber que o meu mundo não era pior que o de ninguém, só diferente. A perda da identidade tirou minha personalidade, eu não sabia o que eu gostava, eu não tinha opinioes concretas sobre nada. Mas eu conseguia me convencer de que era uma pessoa decidida. Várias vezes meu olho pode ser aberto quanto a isso, mas a barreira que o universo fora de mim me trouxe ao mesmo tempo me cegou. O mundo que habitava em mim havia murchado. Eu fazia com que os outros mundos me ofuscassem, por ser diferente, eu me achava pior.

 Certo dia um vídeo me permitiu fazer a reflexão de quem eu era. Eu não tinha respostas. O meu cotidiano tinha influência pelo gosto alheio ou isso vinha da minha própria personalidade? Foi aí que eu percebi que eu não sabia quem eu era. Comecei a ver que eu não era a única diferente. Não existiam mundos iguais. As outras pessoas só eram felizes porque não se comparavam... o contato com o meu eu interior tinha se desligado. O processo de reconecção é lento e difícil, mas pelo menos agora eu não sou mais dependente do mundo de fora. A força, a vida, a felicidade, a minha história, estão dentro de mim, e ninguém pode tirar isso.