Gi.

Filho de Oxóssi

 

Ô filho de Oxóssi,

como tu bagunça o peito dessa cigana.

Me chama pra dentro de mim,

me faz querer cuidar do que é sagrado:

minha fé, meu eixo, minha estrada.

 

Chega sem máscara,

me mostra tuas dores sem vergonha.

Entrega teu amor do jeito que sabe,

cru, verde, mato fechado.

Que eu te acompanho no silêncio

desse vazio que às vezes te caça por dentro.

 

Filho de Oxóssi,

eu te faria raro, peça única.

Leal a ti como quem respeita fundamento,

não por posse,

mas por verdade.

 

Mas não vem fácil, não.

Corre atrás, cigana não se oferece.

Se insistir, talvez eu caia aos teus pés...

talvez.

 

Difícil vai ser me caçar.

Vou passar por teus caminhos

como presa que some no mato,

vou aparecer onde tu menos espera,

igual destino.

 

Mesmo quando puxar o arco,

tua flecha erra.

Bate na rosa vermelha do meu cabelo

e cai no chão.

 

Se for pra ser,

amarro meu sangue no teu.

Teu futuro tem cheiro de longe,

o meu também.

 

Um professor e uma cigana:

tu ensina as consequências,

eu apresento os prazeres.

Dois lados do mesmo cruzo,

igual Exu

equilíbrio, não excesso.