Ester Araújo

Me escondi dentro de mim || final

É como se no meu peito

morasse um grito antigo,

daqueles que não sabem mais sair pela boca.

 

Ele nasce fundo,

lá onde a alma encosta no medo,

e sobe rasgando silêncio,

pedindo passagem.

 

Mas fica preso.

Não por falta de força —

e sim por excesso de contenção.

 

É um grito que não quer brigar,

não quer ferir,

não quer provar nada.

Ele só quer existir em voz alta.

 

Às vezes vira aperto,

às vezes vira cansaço,

às vezes escorre pelos olhos

porque o corpo encontra outro caminho

quando a garganta já desistiu.

 

Esse grito sou eu

tentando voltar.

 

Sou eu dizendo

“ainda estou aqui”,

mesmo abafada,

mesmo cansada,

mesmo com medo de incomodar.

 

E um dia —

não porque fui forte,

mas porque fui fiel a mim —

esse grito não vai mais pedir permissão.

 

Ele vai sair

como fôlego,

como nome,

como verdade.

 

E quando sair,

não será destruição.

Será nascimento.