Luana Santahelena

Manual Provisório para Recomeços Imperfeitos

O ano novo está chegando,

com aquela chance oficial que temos

de poder errar diferente.

Repito isso em voz baixa,

como quem testa um sapato novo

antes de sair para a rua.

 

Feliz Ano Novo —

digo ao espelho,

que me devolve um sorriso meio cético,

meio esperançoso,

como quem sabe que vai tropeçar

mas topa dançar mesmo assim.

 

Errar diferente é curioso:

não é evitar o erro,

é mudar o ângulo da queda,

a história que conto depois,

o carinho que faço em mim

quando percebo que ainda não sei tudo

(e talvez nunca saiba).

 

Sou essa mulher que faz listas

e depois as perde,

que promete calma

e se empolga,

que busca sentido

como quem procura óculos

já pousados no rosto.

 

O ano novo chega

sem garantias,

mas com essa gentileza estranha:

um convite para tentar outra vez

sem precisar ser melhor,

apenas um pouco mais honesta

com minhas dúvidas.

 

Se a vida é um paradoxo ambulante,

eu sigo com ela,

rindo baixo das minhas certezas temporárias,

aceitando que crescer

é aprender a errar

com mais consciência

e menos culpa.

 

O ano novo está chegando,

e eu vou com ele —

sem mapas definitivos,

mas com a delicada coragem

de quem entende, enfim,

que amadurecer

é errar diferente

e ainda assim desejar:

Feliz Ano Novo.