O ano novo está chegando,
com aquela chance oficial que temos
de poder errar diferente.
Repito isso em voz baixa,
como quem testa um sapato novo
antes de sair para a rua.
Feliz Ano Novo —
digo ao espelho,
que me devolve um sorriso meio cético,
meio esperançoso,
como quem sabe que vai tropeçar
mas topa dançar mesmo assim.
Errar diferente é curioso:
não é evitar o erro,
é mudar o ângulo da queda,
a história que conto depois,
o carinho que faço em mim
quando percebo que ainda não sei tudo
(e talvez nunca saiba).
Sou essa mulher que faz listas
e depois as perde,
que promete calma
e se empolga,
que busca sentido
como quem procura óculos
já pousados no rosto.
O ano novo chega
sem garantias,
mas com essa gentileza estranha:
um convite para tentar outra vez
sem precisar ser melhor,
apenas um pouco mais honesta
com minhas dúvidas.
Se a vida é um paradoxo ambulante,
eu sigo com ela,
rindo baixo das minhas certezas temporárias,
aceitando que crescer
é aprender a errar
com mais consciência
e menos culpa.
O ano novo está chegando,
e eu vou com ele —
sem mapas definitivos,
mas com a delicada coragem
de quem entende, enfim,
que amadurecer
é errar diferente
e ainda assim desejar:
Feliz Ano Novo.