Corpo de Palavras
Nesse cortiço, a flor vive
Refém do atenção, calor e prazer
Jogado aos pés de um talvez
Preso numa autoestrada, mas sem carro, sem voz
São só rodas sem propósito, que vagam sem razão, como a rosa
Com algema, vive o prazer ao entardecer
Vive por ela, já com chaves e a viseira, mas sem coragem
Não faz acontecer, a maldita flor escrava do prazer tinha um jardim para escolher, mas tudo a faz encolher
Ou talvez já seja pequeno
O caule significa tanto, mas e as raízes?
Castigado a ver somente acima da terra, a flor, faz péssimas escolhas por prazer
E ao entardecer, ele se vê arrependido
Mais uma vez, vivendo num jardim de flores de plástico, sem raízes
Sem envelhecer, que permanecem belas, e as fazendeiras a irrigam mesmo sem ver mudar sequer um traço
Em cada metro quadrado de flores falsas e belezas sem raízes
Vive a flor, refém de erros e de calor
De beijos, atenção, álcool e rancor
Pedras, ausência de terra, irrigada com seu próprio suor
Mas não tem melhor que está flor.