MAYK52

ENTRE A GUERRA E O SOSSEGO 

Somos feras de porcelana 
erguendo bandeiras de paz com mãos
que ainda tremem do peso das armas 

 

Dizemos “nunca mais”
mas afiamos promessas no frio do metal 

 

Celebramos tratados com taças erguidas
enquanto no fundo dos olhos
arde a centelha antiga do medo 

 

Falamos de pontes 
mas traçamos fronteiras com a pressa
de quem teme ser compreendido 

 

Inventamos discursos suaves
gravamos hinos de união 
mas deixamos que a poeira das trincheiras
se instale nos cantos da memória
não para aprender
mas para justificar o próximo desvario 

 

Somos contraditórios por natureza
queremos a paz que não sabemos sustentar
a guerra que fingimos não desejar
o futuro que adiamos
entre uma conferência e um silêncio cúmplice 

 

E assim caminhamos 
tropeçando entre ideais e instintos
entre o abraço e o punho cerrado
tateando no escuro por uma verdade
que talvez nunca caiba inteira em nós 

 

No fim, resta-nos a pergunta
que ecoa na poeira do mundo 
como guardar a paz
se ainda não aprendemos
a desarmar o coração?

 

MAYK52