Escuro, não é?
Não acha que está escuro?
Ah, desculpe. Não falo do escuro que vem após a noite, e para evitá-lo você acende uma lâmpada. Não. O escuro que eu falo não tem lâmpada que o clareie.
Olhe em volta. O que, não vê? Já disse: luz nenhuma pode iluminar isso. Olhe para onde todos evitam. Olhe para o escuro. O desconfortável. Para aquilo que você não entende com clareza, mas sente que, assim como você, também te olha.
Veja bem: não é pelo filtro da luz que tudo se revela. O escuro esconde o que a luz se recusa a atravessar.
Agora que você está olhando fora dos filtros do Instagram, fora das bolhas do Twitter e dos grupos online, pode vê-los em sua essência: multidões silenciosas. Vagam como almas banidas de seus próprios corpos.
Olhe mais de perto. Todos estão fixados à superfície desse rio cinzento. Não conseguem se desgrudar. E por isso vivem arrastando — vídeos, relações, a vida.
E nessa caverna sem fim, por não estar fixado ao cinza dessa superfície, meu passo repercute ao redor daqueles que caminham fixos.
Esta é minha vida: ecos de passos entre multidões silenciosas. Que ressoam à procura de alguém que ecoe em mim, e eu nela.