Gustavo Felipe

Ametista

 

A embriaguez excita e expõe todos os vícios. Já desejei que o mundo se acabasse em chamas só para tragar meus pecados. Já quis beber até me afogar em outro deles; já até me deitei com meus erros. Vítima dos meus desejos, escravo dos meus prazeres.

A privação causa sofrimento. Talvez por isso o pecado seja tão prazeroso: a maçã de Eva. É por isso também que a distância me traz certa melancolia, mas, de tudo em que já me viciei, minha única abstinência é o vício em te fazer sorrir.

Ainda que eu tenha provado o prazer do erro, não quero a sobriedade de uma vida sem ter, ao menos uma vez, visto de tão perto o teu brilho. Ainda que eu seja, de fato, exagerado, a minha lucidez se perdeu quando te encontrou. Ainda que escreva apenas com o que restou de mim, escolho o excesso que me faz sentir embriagado de ti.

Ainda que eu tenha te ressignificado; se a tua falta for meu único exílio, que eu permaneça assim: viciado em te amar.

Você é uma daquelas pessoas raras que fazem o mundo ao redor parecer mais bonito. Os gregos veriam em ti a própria Ametista — o antídoto para todo excesso — mas, se o amor é o vício que não pede cura, que eu morra de sede, ou me transborde de te amar.

Talvez por saber disso que o universo, diante de tanta raridade, não ousaria confiar esse brilho a mais ninguém. Afinal, você sempre foi mimada.