Nelson de Medeiros

UM VULTO NO CAFÉ LITERÁRIO  

UM VULTO NO CAFÉ LITERÁRIO

 

Na tarde em que a saudade me invadia,

sentei-me só, num canto isolado e frio;

minha alma, ali, de tudo era vazia,

e o peito se afogava em mar sombrio...

 

Ela chegou então — a luz do dia —

e, parecendo um anjo em desvario,

me sussurrou a dura profecia:

“Jamais serás amado, isto eu te fio...”

 

Seu tom não foi de mal nem de desdita,

mas sim de quem já viu além da vida

e que da causa já conhece o efeito!

 

Passaram-se mil sóis na minha lida,

e se cumpriu, enfim, a dor predita:

Jamais um amor leal veio ao meu peito!

 

                                                                  Nelson de Medeiros