Minha procura me levou a pesquisar nas redes sociais, em qualquer mídia eletrônica, no Google e nos aplicativos de inteligência artificial, em propagandas coladas nos postes das ruas, em anúncios de jornais.
Procurava por companhia, por alguém que eu não conhecia, para trocar ideias sobre a vida — sem pressão, sem julgamentos, sem necessidade de alterar meus comportamentos.
Enfim, alguém sem nenhuma intenção de intimidade, alguém com os mesmos interesses intelectuais, de forma anônima, protegido por um pseudônimo.
Encontrei um grupo que prometia conversas sobre qualquer assunto: desde temas banais até complexidades existenciais.
Tracei meu perfil, criei um status sem foto, mas com informações reais. Comecei buscando alguém que tivesse as mesmas necessidades que eu, as mesmas angústias, os mesmos gostos, as mesmas fobias sociais.
Fiz a inscrição. Participava todos os dias, sem encontrar.
Enfim, em uma noite insone, notei um perfil interessante e comecei a conversar. Os assuntos fluíram, as mentes se abriram.
Estava criado um vínculo virtual.
O tempo passou, e as ideias similares — sobre angústias e medos, sobre tantos questionamentos, sobre revelações de sentimentos — criaram uma vontade de marcar um encontro real.
Minha vontade era derrubar o muro dentro de mim.
Comecei intensificando a troca de textos e poemas, como faziam os nossos poetas ancestrais.
Em um dia ensolarado, escolhido ao acaso, marcamos um café em um lugar simples qualquer, com mesinhas do lado de fora.
Eu achava impressionante como nos parecíamos: gêmeos de sentimentos e ideias, mesmos hábitos gastronômicos, liderados pelo aroma do café.
Resolvemos marcar um encontro às cegas, como forma de diversão. Cada um forneceu alguma descrição de si mesmo.
Marquei minha roupa de sempre: calça jeans e jaqueta preta, barba curta e óculos pretos.
Ele citou óculos similares e barba malfeita, um ar um pouco cansado, um andar meio bambo, e também jaqueta preta.
Cheguei antes ao local marcado e fiquei esperando o perfil descrito, observando atentamente as pessoas.
De repente, vejo vindo ao longe uma imagem cansada, claudicante, de roupa preta. Conforme foi se aproximando, fui percebendo uma semelhança. Parecia que eu já conhecia.
Perplexo, vi meu amigo cada vez mais perto — parecido comigo. Quando chegou, pediu para sentar no mesmo lugar.
Incrédulo, percebi então que aquela pessoa, em quem eu depositava minha esperança de tornar a vida mais leve, era eu mesmo tomando café na frente do espelho.
Decidi
cuidar melhor de mim.