Tacaram fogo no quintal
como quem resolve um problema à base do ódio.
Chama baixa, covarde,
mas suficiente pra sujar o céu.
A fumaça veio feito ataque,
grossa, preta, invasiva,
entrou sem pedir licença
e me roubou o ar
como se eu fosse descartável.
Fiquei no terraço
olhando aquela merda crescer,
o corpo parado,
o peito queimando
sem nenhuma chama me tocar.
Respirar virou briga.
O ar virou inimigo.
Cada puxada doía
mais que o fogo lá embaixo.
Incêndio não precisa matar direto.
Basta encher tudo de fumaça
e esperar alguém
engasgar em silêncio.
Não foi acidente.
Foi descaso pegando fogo
bem debaixo do meu nariz.