Adriano Rosa

O Aprender nasce no Viver

Aprendemos com o outro,
no fio invisível do encontro,
no gesto que toca sem ferir,
no olhar que reconhece
antes de explicar.

Educar é abrir um espaço
onde adultos e crianças
se aceitam como são,
onde ninguém precisa provar
a própria existência.

Na convivência, transformamo-nos:
aprende-se a amar, amando;
aprende-se o ódio no espelho do ódio;
aprende-se a ternura
quando se é tocado por ela.

Nada vem de fora.
O aprender nasce no viver,
como um modo de estar no mundo,
feito de relações
e não de imposições.

Somos emoção entrelaçada à razão,
mas é a emoção que sustenta o passo,
que inaugura o encontro,
que permite o laço.

Não há mudança externa
sem mudança de sentir.
A cultura se refaz
quando outra emoção
habita nossas conversas.

O amor é o chão, a base,
não como promessa,
mas como prática diária.
É ele que tece a linguagem,
que funda o conviver humano.

Se queremos adultos generosos,
precisamos sê-lo.
Se desejamos ética,
precisamos vivê-la.
A criança aprende
aquilo que respira.

Crescer no amor
é aprender a amar.
Crescer no respeito
é aprender a respeitar.
Crescer aceito
é reconhecer o outro
sem medo.

Numa escola que caminha no amar,
o educar flui.
Não há guerra entre o ser e o fazer.
Há presença.

Ali, crianças, jovens e adultos
inspiram-se mutuamente,
vivem o bem-estar do outro
e do mundo que habitam.

Amar não é ordenar caminhos,
é respeitar o espaço
onde o outro floresce.
É deixar que exista
em plenitude.

A escola pode ser encantamento:
brincar como linguagem do aprender,
sonhar sem cobranças,
imaginar sem grades.

Um lugar onde cada um aparece
sem amarras,
sem moldes,
sendo o que é.

Deixar o outro aparecer
é um ato raro
num mundo de competição e certezas.
Mas é nesse gesto
que o amor acontece.

Não como teoria,
nem como doutrina.
Mas como encontro.
Como reconhecimento
da legitimidade da vida
que se apresenta.

E é isso, afinal,
que chamamos de amar.