Mayck

A Criança Que Ainda Grita

Quando eu era criança,
a rua era casa.
Qualquer jogo virava mundo,
qualquer chão virava sonho.

A gente brincava sem medo.
Corria sem pensar no depois.
Ria alto,
caía,
levantava,
e ninguém chamava isso de coragem —
era só viver.

Hoje eu cresci.
E as ruas cresceram junto.
Agora tem perigo no caminho,
tem medo na esquina,
tem cuidado demais pra quem só queria ir.

Hoje eu ando atento.
Cabeça baixa.
Coração em alerta.

Mas escuta…
lá no fundo
tem algo que não apagou.

Eu escuto ela me chamar.

Sou eu.
A criança.

A criança que ainda quer brincar,
sorrir sem pedir desculpa,
pular sem motivo,
dançar sem música,
correr como se o mundo não fosse ameaça.

Ela me chama
quando eu tenho medo demais.
Ela me chama
quando eu esqueço quem eu fui.

Ela ainda grita aqui dentro.
Mesmo quando eu finjo que não ouço.
Mesmo quando eu tento ser forte demais
pra ser leve.

O mundo me ensinou medo.
Mas a criança me ensinou luz.

E enquanto eu escutar ela me chamar,
eu sigo.
Mesmo com cuidado.
Mesmo com cicatriz.
Mesmo com medo.

Porque crescer não é esquecer quem fui.
É proteger
a criança
que ainda quer viver.