Adriano Rosa

Educação para além do tempo

Antes do giz,

antes do sino que marca o tempo, o cronos,

houve a palavra dita ao redor do fogo,

o gesto repetido,

o saber passado pelos mais velhos e sábios

como herança viva de um povo.

 

A educação nasceu antes da escola,

no ventre das sociedades primeiras,

quando aprender era sobreviver

e ensinar era cuidar, transmitir, depositar.

 

Com o avançar do tempo,

vieram leis, direitos, deveres,

e o desejo de formar mais do que corpos úteis:

nasceu a escola,

não como prédio,

mas como promessa.

 

Promessa de formar sujeitos,

de erguer consciências, conexões, essências,

de ensinar a ler o mundo

antes mesmo de decifrar letras.

 

Mas o tempo, como o vento, não recuou

e, entre reformas e silêncios,

a educação foi sendo enfraquecida,

desvalorizada, ferida

Ainda assim, permanece.

 

Permanece no educador

que insiste em acreditar,

no aluno que questiona,

no diálogo que rompe a rotina

e transforma a sala de aula em território de vida.

 

Educar é libertar,

é espalhar conhecimentos, sementes,

é inspirar, moldar mentes

é permitir que o sujeito se reconheça inacabado

e capaz de refazer o mundo desejado.

 

A escola não entrega destinos prontos,

apenas aponta caminhos.

Caminhar é escolha,

mas caminhar com sentido

é possibilidade que se constrói junto, é força.

 

É ali, entre valores, conflitos e descobertas,

que se aprende a ser com o outro,

a conviver,

a existir para além de si.

 

No século das urgências e das telas,

educar exige assumir o compromisso

de formar seres humanos inteiros.

 

Ensinar, então, é um verbo em movimento:

transformar-se para transformar,

humanizar para humanizar-se,

fazer da educação

um ato contínuo de esperança.

 

Porque educar, no fim,

é acreditar que o mundo pode ser melhor

e começar essa mudança, assim,

todos os dias,

na sala de aula

com giz e apagador.