Levantei decidido, com passo triunfal,
ia pegar alguma coisa — coisa essencial.
Cheguei no lugar certo, parei bem no local,
olhei pro nada inteiro… branco mental total.
Voltei pro início rindo, tentando lembrar,
“Calma, calma… já vai voltar.”
Mas não voltou. Voltei de novo ao lugar,
olhei pro teto, pro chão, pro ar, pro azar.
Cocei a cabeça, encarei a parede,
talvez a memória estivesse com sede.
Voltei outra vez, com fé no coração,
e esqueci de novo com perfeição.
Fui falar algo sério, discurso impecável,
abri a boca confiante, postura admirável.
“Então, eu queria dizer que…” — fim da canção,
a frase caiu dura no chão do salão.
O silêncio bateu palma, o tempo riu de mim,
e eu esperando a frase surgir do além.
Fui mostrar alguma coisa, todo empolgado,
“Vocês vão amar!”, anunciei animado.
Andei até o quarto com ar de campeão,
voltei de mãos vazias e cara de confusão.
“Era isso aqui ó…” — apontando pro ar,
e o ar concordou, sem nada entregar.
Levantei outra vez, agora com atenção:
“Dessa vez eu lembro, tenho convicção!”
Cheguei lá firme, olhei tudo outra vez,
pro teto, pro chão, repeti três vezes.
Voltei pro começo, parei no final,
e não lembrei no meio — genial, fenomenal.
No fim, aceitei rindo essa condição:
minha mente dança samba com a distração.
Se esquecer fosse esporte, eu era campeão,
esquecia a medalha na premiação.
Mas sigo feliz, rindo da confusão,
porque esquecer assim… já virou diversão.