G. F. dos Santos

Amar sem Existir

Ela é tão linda
que a beleza dela não cabe no mundo —
cabe apenas em mim.

Nunca lhe direi palavra alguma,
nunca saberei o peso real da sua voz fora da tela,
nunca serei um rosto possível no dia dela.
Ela não sabe que existo,
e mesmo que soubesse,
meu nome não lhe diria nada.

E ainda assim —
amo.

Amo com a distância das galáxias,
com a inutilidade dos sonhos que sabem que são sonhos.
Basta vê-la através do vidro luminoso
para que meu coração aqueça,
para que o caos em mim se organize por alguns minutos,
como se o mundo tivesse, enfim, uma forma suportável.

Mas o vídeo termina.
E termina também a ilusão.
Volto a ser eu —
aquele que ama sem retorno,
aquele que sente demais para existir em silêncio.

Então discuto com Deus,
com a veemência dos que não aceitam respostas:
“Por que me fizeste capaz de amar o que nunca será meu?
Por que me deste este excesso de sentir
sem me dar a graça de ser sentido?”

Às vezes penso que é melhor não haver Deus algum,
porque um Deus justo não criaria
um coração que ama
condenado a nunca ser amado.

E, no entanto, todas as noites,
quando o mundo se apaga,
ela volta.
Não como é,
mas como sou capaz de imaginá-la.

E nesse romance invisível,
que só existe no pensamento,
sou amado —
ainda que apenas por mim mesmo.