Miri

Medo

 

Ela estava com medo, novamente, de levantar na cama de ela deveria chamar de dela, de conviver na casa que ela deveria chamar de porto seguro.

Um homem se torna monstro antes mesmo de se identificar como um monstro.

Quando que tudo mudou? Ou será que sempre foi assim e apenas não enxergava.

Ela apenas queria fazer, vestir, agir como sempre fazia mas agora o medo a consumia.

Ela odiava estar sozinha, sozinha com o seu medo, ele.

Tinha medo de morrer, tinha medo dele estar na morte ou outro deles.

Tinha medo de sair na rua e encontrar seu medo.

Medo de se relacionar, porque poderia ser ele.

Queria estar livre, sem medos, sem preocupações.

Queria manter todos que ela conhecia longe de seu medo, para que ele também não se tornasse o medo de outros.

Sua mãe enxergava esse medo mas ainda sim escolheu o chamar de amor e o manteve perto dela mas também perto de sua filha.

Que erro.

Mesmo sabendo de tudo ainda foi capaz de deixar tudo como estava.

Ela só queria se sentir segura, em sua casa, ao lado de sua mãe. Mas nem mesmo pode confiar nela.

Ninguém entendia ela, o porque dela querer crescer tão rápido, o porque se afastar e se manter apenas em um canto da festa.

Ela não queria dar liberdade, ela queria ser liberta.

\"Se você der liberdade ao medo ele te consome, se você procurar a liberdade você se liberta\"

E por isso que se manteve longe, se afastando de todos.

E por isso quando morrer, quer ser queimada, para que nada seu fique para seu medo.

Ela tinha medo, daquilo que deveria chamar de família. 

Ela não deveria ter medo de dormir.