Gilberto Lima

Quando o Invisível se Move

Nada começa no gesto.
Antes do passo, algo decide caminhar.
Um sopro sem forma inclina o mundo,
e o mundo obedece sem perceber.

O que vibra chama seu semelhante,
como cordas que se reconhecem no escuro.
Não é magia — é afinidade.
O caos só parece caos para quem não escuta o ritmo.

Há um fio tenso entre dar e receber,
um pêndulo paciente que jamais se esquece.
O excesso pede retorno,
a falta aprende a chamar.

A queda não é punição,
é curva necessária do voo.
Tudo o que sobe aprende a descer
para saber, um dia, sustentar o alto.

O tempo não corre — ensina.
Ele amadurece causas,
lapida intenções,
e devolve frutos exatamente do tamanho do que foi semeado.

Nada se perde no silêncio.
Toda escolha deixa um rastro,
toda omissão escreve também,
ainda que em tinta invisível.

E no centro disso tudo,
o humano desperta devagar:
não como dono do mundo,
mas como parte consciente do movimento.

Quando compreende, não controla —
alinha.
Não força — ajusta.
Não exige — participa.

E então, sem anúncios,
o universo coopera.

Porque sempre cooperou.