Well Calcagno

Poema Marginal

 

O poema foi preso,

Estava armado e perigoso

Na esquina da rua arte,

No morro da vida.

O poema vendia

Seus versos proibidos,

Escondia-se para

Não ser notado.

 

O poema foi colocado 

Atrás do camburão,

Apanhou tanto o poema,

Que não conseguia respirar,

E nem inspirar,

Foi levado pro DP

Para interrogatório

E quando disse não saber

Quem era o dono do jogo,

Apanhou mais e mais,

E foi jogado feito um bicho

Numa jaula minúscula,

Parecia uma antologia

De poemas marginais.

 

O poema foi solto

Voltou às ruas,

E ao ouvir o choro contínuo

De seus pequeninos filhos,

Tentou se empregar

Foi rejeitado, disseram-lhe

Não haver vagas

Para poema marginal,

Bateu de porta em porta,

Sempre recebia um não no final,

O poema foi pedir ajuda,

Para engrossar o mingau,

Mas ninguém queria ouvir,

Aquele mote infernal.

Sem saída o poema foi roubar,

Primeiro pontos, vírgulas e

Reticências...

Depois pequenas letras,

E foram elas sua decadência.

 

A polícia o encontrou novamente,

Exigiram-lhe dinheiro,

Mas o poema não tinha,

Pediram as estrofes proibidas,

Mas o poema estava mudo,

Bateram no poema de novo,

Não levaram-no preso,

Abandonaram-no inerte e sem vida

Num terreno baldio qualquer.

E foram atrás da música

Que se prostituía

Num outro canto da cidade!

 

 

21 de setembro de 2013.