Adriano Rosa

O Amor na DocĂȘncia

Trazer o amor à escola
não é gesto leve,
nem ornamento ou acessório
pendurado ao currículo.
É travessia profunda,
onde o saber técnico se curva
à dignidade do encontro.

Ensinar não se esgota
no rigor dos métodos,
nem repousa apenas
na ciência bem dominada.
Ensinar exige mãos abertas,
olhar atento,
presença inteira.
Pois há verdades
que não se transmitem por fórmulas,
mas se revelam
na forma como se está com o outro.

O educador não é apenas
guardião de conteúdos:
é semeador de existências.
Carrega em si o inacabamento
e reconhece, no educando,
um projeto em gestação.
Entre ambos, o diálogo:
ato criador,
palavra que funda o mundo,
amor que sustenta a escuta.

Amar, aqui,
não é concessão frágil
nem permissividade cega.
É ética do cuidado,
aceitação do outro
como legítima presença.
É abrir espaço
para que o outro seja,
sem exigências que o neguem.

Educar é conduzir
e, ao mesmo tempo,
deixar nascer.
É nutrir caminhos
e provocar emergências.
De fora para dentro,
de dentro para fora,
o gesto pedagógico pulsa
entre orientar e libertar.

O amor, esse fenômeno cotidiano,
biológico e histórico,
muitas vezes silenciado,
faz-se visível no zelo,
na paciência que espera,
no cuidado que sustenta.
Quem ama, cuida.
Quem cuida, forma.
Quem forma, transforma.

Na sala de aula,
o amor não se compra
nem se decreta.
Cria-se.
Entre gestos,
entre palavras,
entre silêncios respeitados.
E, criado, contagia,
espalha-se,
faz do vínculo um território fértil.

Não há aprendizagem
onde há medo.
Não há formação
onde falta reconhecimento.
A educação floresce
quando a benquerença
se alia ao compromisso
de formar o humano inteiro.

Assim, o amor na docência
não é excesso:
é fundamento.
Não é desvio:
é caminho.
Pois educar, em sua essência,
é um ato radical de esperança

e toda esperança verdadeira
nasce do amor que cuida
e acredita no vir-a-ser.