Luana Santahelena

Manual de SobrevivĂȘncia para Dias em que o Mundo Desliga

Quando o drama da vida começa

— e o mundo, sem aviso, pifa —

aprendi que o pânico é uma opção.

Não obrigatória.

Há também essa outra, mais ousada:

nós.

 

Confesso:

às vezes espero segurança no concreto,

em planos bem numerados,

em certezas que prometem durar mais

do que realmente duram.

Mas a vida ri dessas engenharias

com um riso debochado

e puxa o tapete filosófico

bem no meio do pensamento sério.

 

É então que percebo:

a segurança mora em algo menos sólido

e muito mais escorregadio —

a cumplicidade.

Essa coisa estranha

que me faz rir justamente quando tudo dá errado

e perguntar, em voz baixa:

“era isso mesmo que chamavam de controle?”

 

Não vamos gastar lágrimas.

Elas são recurso renovável, eu sei,

mas prefiro reutilizá-las

em gargalhadas fora de hora.

Chorar, sim —

mas de tanto rir do caos

como quem entende que a vida

não veio com manual,

apenas com trocadilhos mal explicados.

 

Avancemos.

Não porque sabemos para onde,

mas porque juntos ficamos

menos perdidos.

Somos essa dupla improvável

que transforma tragédia em comédia,

medo em piada interna,

e dúvida em assunto de conversa

num fim de tarde qualquer.

 

E se o sentido da vida

for mesmo um mistério,

que seja ao menos um mistério

contado em tom de riso baixo,

de mãos dadas,

enquanto o mundo falha de novo

— e a gente, teimosamente,

escolhe não falhar junto.