No silêncio antes do primeiro gesto,
o amor se ergue como um aroma tênue,
um vapor quente subindo da panela da esperança.
Ali, onde o tempo se mistura ao desejo,
aprendemos que sentir é também preparar:
mexer o mundo com mãos que tremem
e ainda assim confiam no que pode surgir.
É no dia comum que o amor revela sua química:
na paciência que descansa sobre a mesa ao amanhecer,
na compreensão que ferve lentamente
quando as horas se tornam pesadas,
no cuidado que se infiltra entre pequenas falas,
no respeito que assenta o sabor mesmo dos desencontros.
Cada gesto — um ingrediente preciso,
cada silêncio — uma pausa necessária para não queimar
o que ainda está sendo aprendido.
Mas a receita não é sempre dócil.
Há dias em que a chama sobe demais
e o coração, febril, ameaça transbordar;
outros em que quase não se sente o calor
e o afeto parece dormir no fundo da panela.
Entre excessos e faltas, cresce o risco
de temperar com medo ou esfriar por descuido.
Ainda assim, algo insiste:
uma confiança que se renova
quando percebemos que amar é ajustar,
provar outra vez,
aceitar que nenhum sabor permanece igual
e que nisso reside sua beleza —
a alquimia mutável que nos mantém atentos
ao que o outro também tenta ser.
E então compreendemos:
o amor é esse prato que nunca se serve pronto,
um fogo que exige presença
e um perfume que só existe quando partilhado.
Quem o experimenta com verdade
não procura perfeição,
mas a coragem de continuar acendendo a chama.
Porque é no instante em que o fogo e o afeto respiram juntos
que nasce o sabor que permanece —
aquele que, mesmo depois do último gesto,
ainda arde na memória como um convite
para recomeçar.