Versos Discretos

O Vício Dicotômico

Entre o alvo marfim e a noite que desaba, 
Tua silhueta pérfida é o vício que me acaba. 
Veste-se de peles, mas despe-me a razão, 
Cruel aristocrata de minha própria perdição.

És a algoz sublime, a dama da voragem, 
Que faz do meu desejo a tua paisagem. 
Não busques nos dálmatas a mancha que te apraz, 
Mas marca em minha carne o delírio que me trazes.

São cúpulas de neve sob o brocado tenso, 
Dois montes alvos que anunciam o intenso. 
Um néctar proibido, a ânfora do vício, 
Esculturas frias para o meu ofício.

E quando o caos de Cruella se faz meu destino, 
No teu cerne, sou o dócil peregrino. 
Sentes em ti a força que te toma e te possui, 
No labirinto interno onde o frenesi flui.