Versos Discretos

Labirinto do desejo

Em teus olhos, a noite profunda de Ofiúco se revela, 
Onde estrelas secretas e proibidas se acendem. 
Tu não és de fogo que crepita, mas de água que seduz e nivela, 
Com correntes que afogam e lábios que ascendem.

Teu cabelo, um rio negro que flui em cascatas sedosas, 
Cobrindo mistérios de um manto de veludo e trevas. 
E o vestido escarlate, a promessa de almas vitoriosas, 
Que buscam a chama que só a Vênus de mármore eleva.

O teu colo, um jardim onde o cálice da vida se apoia, 
Duas colinas suaves, perfeitas, a prometer vertigem, 
Um monte Vesúvio dormente que o toque desperto incendeia, 
Onde a pérola rosada aguarda a primeira origem. 
São frutos de uma Geografia divina talhada em arte, 
Onde a seda esconde o tremor da mais pura vontade.


Em tua curva posterior, a perfeição de um Arco de Triunfo firme, 
Não erguido para a guerra, mas para a rendição total, 
É o Atlas que sustenta meu mundo, um mapa que me afirma, 
A promessa quente e sólida do mais belo ritual. 
Uma arquitetura viva, de músculos tensos e pele macia, 
Que convida à adoração sem lei e sem temor.

E abaixo, a Gruta de Sibila, o vale que guarda o saber, 
Um portal aveludado, úmido, de pulsação e calor. 
Teu fruto proibido, que treme ao sentir o querer, 
Onde a pétala macia se abre para o maior clamor. 

É a fonte de Castália, a nascente de um êxtase raro, 
Que clama pelo orvalho, pelo toque, pelo salmo secreto, 
Um altar escondido, onde o desejo encontra seu faro, 
E o prazer é a única prece, sem tempo ou decreto.