No limite entre o último suspiro
e o primeiro silêncio,
caminham dois
um feito de brancura calma,
outro de passos que inflam o chão.
Aquele que canta aponta o caminho,
tão leve que sua presença
é quase promessa.
Aquele que ruge o confirma,
tão feroz que sua chegada
é quase destino.
Juntos, eles me encontraram
numa curva esquecida do tempo.
A voz suave disse que eu ainda podia escolher.
Os dentes brilhantes lembraram
que toda escolha tem seu fim.
E eu, dividido como eles,
entendi enfim:
a vida é arco e flecha,
sopro e corrida,
luz que guia
e sombra que completa.
Desde então caminho acompanhado
um lado me chama adiante,
o outro me vigia atrás.
E sigo, sabendo que não há medo
quando se aprende
a honrar a caçada
e a aceitar o chamado.