Lucien Vieira

O SILÊNCIO QUE ME LÊ

Discuto comigo, às vezes,

por ainda notar as tantas dores de um desabraço.

Mas discuto também pela ausência

do deguste dos cafés,

ou da sensação prazerosa dos meus pés em outros pés.    

 

Li os inteiros do perdoando e do perdoado,

a inquietação da presença da ausência, 

o respirar do ressurgir da revivência,

e os cernes do desejo desejado.

E, outra vez desejei...

 

Desejei

deslembrar os ajustes do tempo,

de qualquer andamento,

e, na maquinação melódica do pensamento,

descobrir-me o libo

de alguém;

 

estar “naquele lugar” — de dengos —,

bolinando os sentidos,

experimentando

a sensação poética do inebriar-me

daqueles odores, sussurros e gemidos;

 

olhar um olhar

que me descreva o luar — em silêncio —

ao meu (des)entendimento,

o momento

de uma farra a dois, 

 

e saber que, docemente, os meus “eus” 

são seus,

e que os teus “vocês”

são meus.