Dizem que, certa manhã, surgiu no caminho
uma pequena ave de penas claras,
que não pousava perto de ninguém.
Voava perto do solo, depois sumia,
como se o vento fosse seu único amigo.
Eu a vi apenas por um instante,
de relance, entre dois ramos.
E bastou esse vislumbre breve
para que meu coração, distraído,
aprendesse um novo tipo de silêncio.
A ave parecia desconfiar da terra,
como se temesse que toda aproximação
fosse armadilha.
E ainda assim, quando dobrava as asas,
o ar ao redor brilhava
como água tocada pela luz.
Não a chamei.
Apenas observei seu movimento incerto,
respeitando a distância que ela pedia.
Pois alguns seres do mundo
não se aproximam pelo som,
mas pela constância do olhar
que não força, não exige, não prende.
E, enquanto ela desaparecia entre as folhas,
percebi que o mundo inteiro mudara de tom,
como se o simples gesto de vê-la
tornasse o horizonte mais vasto.
Não desejei agarrá-la;
apenas caminhei adiante
com a leve impressão de que seu voo
deixara um traço secreto no ar , um presságio, talvez,
de encontros que ainda dormem no tempo.
E assim segui,
guardando no peito não a espera,
mas o movimento suave
de quem aprende a reconhecer,
no bater de asas distante,
um convite discreto para seguir
com o coração desperto.