Ultracrepidário

Homem Vermelho

Muitos são os homens
Que, em forma de pedra,
Vagam na fina chuva.
Chuva essa que tenta entrar na carne;
Que tenta regar a mente em prata lunar
Mas que sempre escorre fria na pele.

Eu sou essa gente
Que vira os olhos para o tempo
Perdendo segundos em cortisol remoído.
Eu sou essa gente
Que não sangra
E que nem sente o que tangencia a alma.

Mas quando tu abres esses olhos
Que secam a pele até arrancar
Volto a sentir a chuva
Que vai se esgueirando
Por entre as fibras
Expulsando o sangue
Esfriando os órgãos.

Eu sou essa gente
Que não tem pele
Somente o sangue vermelho
Que foge do corpo
Sem coagular.
Eu sou essa gente
De carne exposta
De cérebro cego
De coração líquido
Que sente o mundo
Em cada gota de orvalho.