Ela agora vivia em alumínio e aço.
A barriga, levemente enjoada.
O ouvido, tomado por um zumbido
estranho, recém-nascido.
A boca, marcada pelo gosto
de uma saliva artificial.
Ela estava onde tantos sonharam que estivesse.
Ela estava onde nunca deveria estar.
Criatura que jamais sonhou o infinito,
lançada contra a imensidão
sem palavra para dar,
sem pedido a fazer.
Homens sonharam e se perderam,
rezaram por um deus,
entregaram-se à ciência,
tudo na ânsia de ver o maior
para provar que somos pequenos.
O cachorro nasceu
e um dia encontrou uma grande mancha azul
flutuando no vazio.
E, por um instante,
quando seus olhos reconheceram aquele brilho oval,
quis acreditar
que ainda poderia brincar de pegar.