Charles Araújo

RENDIÇÃO 

RENDIÇÃO 

 

Juro solenemente… me render.

Porque, diante de certas circunstâncias, não há mais juramento que se sustente, nem promessa que resista quando o desejo toma o controle.

 

“Garotas como você, que tentam tirar as virtudes de um homem sério, não herdam os céus, sabia?”, tentei lembrá-la. Como um bom homem, que faz de tudo para preservar as santas virtudes, mas se vê em dilemas bons que não escolheu, nos quais o perigo me chama, com um sorriso que desarma qualquer defesa.Ela, olha pra mim com aquele olhar travesso,e responde sem hesitar:

 

E quem te disse que vim para herdar alguma coisa? Eu vim para roubar. Teu sossego, teu juízo... e, se vacilar... até o silêncio da tua solidão.E eu?Me lasco... pois como não me entregar…Porque, no fim, a luta não é contra ela, é contra mim mesmo. Contra o meu próprio GPS que insiste em me mostrar o caminho mais fácil, mas sempre me deixa preso na velha batalha entre razão e emoção.

 

Porque, se ela é boa de papo, é melhor ainda em me desafiar a me recompor diante das ciladas  boas de amor, e da paixão... E eu, que acho que sou bom com as palavras, acabo perdido nas palavras dela. Ela diz, passando a mão no cabelo como quem faz preces sem altar:

Eu não sou céu, nem inferno. Sou o meio termo... sou purgatório com direito a DJ tocando suas músicas favoritas.

E de fato é. (Sabe escolher uma playlist de MPB como ninguém.)

 

Porque nela, tudo é meio:

Meio santa, meio pagã; meio abrigo, meio perigo; meio carinho, meio provocação... e, com toda ameaça sedutora e carinhosa, me sinto sem forças para resistir, prometendo nunca mais querer te perder...No meio dos meios delas, misturar meus .meios até que, no meio de tudo nos vemos inteiros

E eu, que já não sei se quero fugir, já querendo ficar 

Me declaro, em carta aberta a ela:

Desde já, sou prisioneiro voluntário das suas artimanhas. Refém novamente do amor,Na mira de suas paixões com cheiro de perfume bom, pele macia e vontades antecipadas, com gosto de beijo roubado no meio da rua na fila do pão no escuro do cinema e onde quer que te veja sem hora, sem permissão.E, se me apaixonar de novo... então me interna.Mas que seja no hospício dos teus braços,Onde a única terapia possível é tua risada me curando da razão,E tua boca me convencendo que, às vezes, uma loucura boa é necessária.

 

Aos céus Peço que acate todos os meus argumentos e roguem aos meus anjos da guarda para que fechem os olhos…tampe os ouvidos , e que não me salvem. Estou em boas mãos.

Que Deus apenas assista... e, quem sabe, sorria.

Porque, talvez, seja só uma paixão.

Talvez seja só desejo. Ou talvez... seja só vida querendo acontecer.E eu, por fim, sem o peso da razão, sem resistência,

Consigo, solenemente... me render. Se é que j

á não estou...