Samantha Matos

Quando partimos

Nada é tão nosso quanto nossos problemas...

 

Quando partimos são eles que desaparecem conosco, eles não são herança para os que ficam.

Quando partimos a lembrança de quem fomos é uma brisa leve que fica por algum tempo e desvanece, evapora...

 

Temos a vaga ilusão do dia de nossa partida, de como será, quem irá dar o último adeus, o que falarão, será que guardarão luto por alguns dias? Nossos amigos vão se reunir e contar histórias sobre nós?

 

Vaga ilusão...

 

Para quem fica a vida continua, seremos uma frase, uma foto, um lamento, uma postagem e nada mais, a vida continua... a dos outros... a nossa se foi, junto com os nossos problemas.

 

Partiremos pela manhã e à noite seremos algo que já passou.

 

A grande, deslumbrante, emocionante, cruel e sádica montanha-russa que é a vida, ela não para nem desacelera com a nossa partida, nós somos arremessados, algumas vezes por vontade própria, outras pelas mãos de alguém e outras sem mesmo notarmos, mas sim, somos arremessados violentamente contra o vazio que é não saber o que há do outro lado.

 

Ninguém sabe, nem quem vai, muito menos quem fica...

 

Com a nossa partida fica a saudade, que vem em ondas leves no dia a dia e como um tsunami em certos momentos, na lembrança de uma aventura, no desenterrar de uma foto ou um bilhete, nas simples memórias que teimam em aparecer nos momentos mais inoportunos, nas conquistas que poderiam ser celebradas em conjunto, nas derrotas onde falta aquele ombro para chorar.

 

Só que mesmo isso não dura, é só um momento, logo passa e fica enterrado novamente.

 

Isso é o que nos tornamos, uma breve memória, uma lembrança fugaz de algo que já não existe mais.

 

Ao longo dos anos vamos deixando de existir até nessas lembranças, acabamos por ser um nome que está escrito atrás de uma foto, uma marcação em uma postagem antiga.

 

Nossos amigos, famílias, seguiram... nós não, nem os nossos problemas, eram só nossos e sumiram conosco...

Quando partimos, partimos sós, não levamos bens materiais, não levamos lembranças, só as deixamos... também não levamos os nossos problemas, eles simplesmente desaparecem como se nunca tivessem existido, mas existiram, e foram motivo, causa, desculpa... existiram e deixaram marcas, profundas, porém não perenes...

 

Nada é para sempre, nem as lembranças, nem os problemas, nem nós, nem ninguém...

 

A vida... dos outros... continua...